Crise no transporte público de Fortaleza: entenda o que levou empresas a suspenderem linhas de ônibus

  • 30/09/2025
(Foto: Reprodução)
Suspensão de ônibus afeta 9 mil passageiros Fortaleza enfrenta um momento crítico no setor de transporte coletivo, conforme avaliação de empresários do setor. Em uma década, os ônibus perderam mais da metade de seus passageiros, cerca de 54,7%. A queda no número de usuários, aliada à crise financeira que afeta as empresas de transporte, resultou na suspensão repentina de mais de 20 linhas de ônibus na última segunda-feira (29). O g1 conversou com empresários do setor e especialistas em transporte público para entender o motivo da crise. Conforme estudiosos, a procura por ônibus caiu no últimos anos devido às novas opções de deslocamento, como apps de transporte, ciclovias na cidade e patinetes elétricos. Com a redução da oferta de ônibus, os passageiros sofrem com demora pela chegada do veículo à parada e viagens mais longas. Siga o canal do g1 Ceará no WhatsApp Atualmente, cerca de 520 mil passageiros utilizam o transporte público de Fortaleza por dia, uma queda drástica em relação a 2015, quando esse número chegava a 1,15 milhão. Dimas Barreira, presidente do Sindiônibus, afirma que as linhas suspensas afetam cerca de 9 mil passageiros. Cerca de 520 mil passageiros utilizam o transporte público de Fortaleza diariamente. Ismael Soares/SVM Outras medidas também foram adotadas nos últimos anos para tentar equilibrar o sistema. Uma delas foi a redução da frota de ônibus. Em uma década, o número de veículos caiu de 1.904 para 1.150, o que representa uma redução de aproximadamente 39,6%. Essa diminuição teve um impacto direto na idade média da frota. Se antes os ônibus tinham, em média, 4 anos de uso, hoje essa média dobrou e está em 8 anos. Isso significa que os veículos estão circulando por mais tempo antes de serem substituídos, o que pode afetar a qualidade do serviço e o conforto dos passageiros. A crise no transporte público de Fortaleza reflete uma série de desafios que vão além da suspensão de linhas. Especialistas apontam fatores como a concorrência com transportes alternativos e mudanças nos hábitos de deslocamento da população. Possíveis causas da redução de passageiros Queda no número de usuários desafia o futuro do transporte público na capital cearense. Fabiane de Paula/SVM Para Mário Azevedo, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), um dos fatores que ajudam a explicar a queda no número de passageiros do transporte público foi a combinação entre a pandemia de covid-19 e o aumento do desemprego no Brasil em 2020, quando o país registrou a maior taxa média anual de desemprego desde o início da série histórica, em 2012. Segundo o IBGE, o índice chegou a 13,5%, o que representa cerca de 13,4 milhões de pessoas sem trabalho naquele ano. Com menos gente saindo de casa para trabalhar ou estudar, o impacto sobre a demanda por transporte coletivo foi direto. "Por conta do desemprego, você usa menos o transporte público. Se você está desempregado, você não tem, talvez, nem como pagar. E você não tem motivo para fazer a viagem. Por que você viaja? Para ir trabalhar, ir do trabalho para casa. E se é um trabalho de carteira assinada, você tem o vale transporte, que incentiva você a usar o transporte público", pontua. Atualmente, o cenário do desemprego no Brasil apresenta sinais de melhora. Segundo dados do IBGE, a taxa de desemprego ficou em 5,8% no trimestre de abril a junho de 2025, o menor índice registrado desde o início da série histórica da PNAD Contínua, em 2012. Para o professor, esse avanço pode refletir na retomada do uso do transporte público. No entanto, o surgimento de outras alternativas de transporte coloca em xeque o uso do transporte público. O professor de urbanismo da Unifor Edilson Aragão aponta o crescimento na venda de motocicletas como um dos fatores que influenciam essa tendência. Número de motos cresceu nos últimos anos. Thiago Gadelha/SVM Até abril deste ano, foram registrados cerca de 656 mil emplacamentos de motos no país, um crescimento de quase 9% em relação ao mesmo período de 2024, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Como se locomover em Fortaleza? Conheça os principais meios de transporte O professor também aponta a popularização dos aplicativos de transporte, como Uber e 99, como fator que contribui para a queda no uso do transporte público tradicional. Além disso, as opções por moto, que muitas vezes custam o mesmo valor da tarifa de ônibus, têm atraído parte dos usuários que antes dependiam exclusivamente dos coletivos. Essa avaliação é reforçada pelo presidente do Sindiônibus, Dimas Barreira, que afirma que a perda de passageiros começou em 2014, justamente com a expansão das plataformas de transporte individual. “As plataformas não levam toda a nossa demanda, mas levam a demanda que era o principal sustentador do serviço, que era a demanda que pagava inteira nas distâncias curtas e médias. Com isso, o serviço vai ficando dedicado praticamente às pessoas que têm gratuidades, benefícios tarifários e longas distâncias”, explica. Outro fator é o crescimento do uso da bicicleta como alternativa de deslocamento. A expansão do sistemas de bicicletas compartilhadas, o Bicicletar, junto com a melhoria na infraestrutura cicloviária, tem incentivado mais pessoas a escolherem esse meio para trajetos curtos. Bicicletar é o sistema de bicicletas públicas de Fortaleza. Divulgação Para enfrentar os desafios do transporte público em Fortaleza, Aragão defende que a mobilidade urbana deve ser tratada como uma política de inclusão social, envolvendo uma ação integrada entre os três entes federativos: União, estados e municípios. "Há necessidades de subsídios, pois é insustentável colocar sobre os ombros do usuário todo o custo do sistema. Assim, penso ser esse o maior desafio, a adoção de uma forte política de subsídio para mantermos o sistema equilibrado, mantendo os níveis de serviços com a qualidade desejada", declara. Suspensão das linhas ônibus fortaleza Ismael Soares/SVM Era início da manhã de segunda-feira (29) quando a operadora de telemarketing Raquel Andrade chegou ao Terminal da Parangaba, em Fortaleza. Ela estava aguardando o ônibus que pega todos os dias para ir ao trabalho, mas o transporte nunca chegou. Sem aviso prévio, a linha havia sido suspensa, uma entre as 25 desativadas de forma repentina na capital cearense. "É chato, porque se com a duas linhas que funcionavam não estava bom, imagina só com uma agora. Eu só tenho essa opção para ir trabalhar", desabafou. O Sindiônibus, Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará, informou que a frota passou por um "ajuste necessário", resultado de estudos técnicos realizados pela entidade. Segundo o sindicato, a medida é indispensável para garantir a continuidade do sistema e o cumprimento de responsabilidades, como o pagamento de salários e a manutenção da operação. O ajuste se faz necessário diante do atual cenário de desequilíbrio financeiro enfrentado pelas empresas de transporte coletivo. Os estudos levaram em conta fatores como dimensionamento da frota, análise de rotas e linhas, sempre fundamentados em critérios técnicos. Como consequência, algumas linhas que apresentam maiores déficits financeiros precisaram ser reduzidas ou suprimidas, enquanto linhas de maior relevância, que transportam um número maior de passageiros diariamente, receberam reforço com a inclusão de novos veículos. A Etufor informou que a medida não foi autorizada nem estava programada oficialmente. A empresa ressaltou ainda que a Prefeitura garante mensalmente cerca de R$ 16 milhões em subsídios para a operação do sistema e afirmou manter diálogo constante com o sindicato para evitar prejuízos às empresas e, principalmente, aos usuários. O presidente do Sindiônibus afirma que os valores não são suficientes para cobrir o déficit mensal, que já chega a cerca de R$ 9 milhões. Ele explicou que algumas empresas não conseguiram se manter e encerraram as atividades, ressaltando a necessidade de uma solução conjunta, com participação do governo federal. 🚎 Veja o que mudou nas frotas de ônibus As linhas que tiveram operação suprimida foram: 14 - Aguanambi/Rodoviária II/Centro 20 - Campus do Pici 22 - Jardim das Oliveiras/Centro 81- Cj Ceará/Antônio Bezerra II 91- Expresso/Antônio Bezerra/Parangaba 97 - Antônio Bezerra/Siqueira 106 - Floresta/Centro 200 - Antônio Bezerra/BRT/Centro 217 - Estação/Pio Saraiva II/Antônio Bezerra 302 - Rodolfo Teófilo/José Bastos/Centro 307 - Parangaba/Itaóca/Jardim América/Centro 352 - Solar das Águas/Green Park/Parangaba 374 - Aracapé/Centro 400 - Osório de Paiva/Siqueira 404 - Aeroporto/Rodoviária/Benfica/Centro 501 - Bairro de Fátima/Rodoviária/Centro 513 - Parangaba/UECE/Luciano Carneiro 614 - Curió/Terminal Washington Soares/Messejana 633 - Passaré/Centro 653 - Santa Fé/Messejana 668 - Parque Betânia/Messejana 701 - Parque Americano/Centro 835 - Papicu/Câmara Municipal/Defensoria 903 - Papicu/Varjota/Centro 1310 - Siqueira/Hospital Universitário Do Ceará Outros 29 linhas tiveram redução de frota: 21 - Luciano Cavalcante/Papicu 25 - Opaia/Lagoa 26 - Antônio Bezerra/BRT/Messejana 40 - Parangaba/Lagoa 65 - Siqueira/13 de Maio/Assembleia 82 - Antônio Bezerra/Perimetral/Messejana 84 - Siqueira/Perimetral/Messejana 87 - Expresso/Siqueira/Papicu 89 - Expresso/Parangaba/Papicu 110 - Vila do Mar/Centro 300 - Expresso/Siqueira/Centro 338 - Canindezinho/Siqueira 340 - Cj Itaperi/Parangaba 353 - Parangaba/Parque Veras 361 - Siqueira/Osório de Paiva/Parangaba 366 - Bom Jardim II/Siqueira 378 - Urucutuba/Siqueira 394 - Parque Universitários/Lagoa 411 - Lagoa/Montese/Centro 421 - Lagoa/Parangaba/Montese/Centro 611 - Cidade Func/Cofeco/Lago Jacarey/Centro 613 - Messejana/Barroso/Jardim Viôleta/Centro 622 - Pedras II/Messejana 636 - Cj Palmeiras/Parque Santa Maria/Messejana 641 - Guajerú I/Messejana 650 - Expresso/Messejana/Br 116/BRT/Centro 666 - Jardim Castelão/Centro 702 - Antônio Sales/Dionísio Torres/Centro 825 - Cidade Func/Jardim das Oliveiras/Papicu 2 linhas passaram por ajustes: 403 - Parangaba/Expedicionários/Centro 629 - Conj. Palmeiras/Castelo de Castro/Messejana Em contrapartida, sete linhas tiveram um aumento de 20 veículos em suas frotas: 74/1074 - Antônio Bezerra/UNIFOR/TER 75 - Campus do Pici/UNIFOR 86 - Bezerra de Menezes/Santos Dumont 385 - Conjunto Ceará/Centro 670 - Sítio São João/Centro 855 - Bezerra de Menezes/Washington Soares 906 - Caça e Pesca/Serviluz/Centro Assista aos vídeos mais vistos do Ceará:

FONTE: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2025/09/30/crise-no-transporte-publico-de-fortaleza-entenda-o-que-levou-empresas-a-suspenderem-linhas-de-onibus.ghtml


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